DOIS POEMAS DE JOÃO TOMAZ PARREIRA
Conheço as línguas dos homens. São físicas
descrições de sons e sentidos, desdobram-se
em cores para pintar o mundo. São frias
se vêm do norte, do sul se vêm com fogo.
Com as suas línguas
de metal celeste, conheço os anjos.
Mas será como ter os ouvidos tapados
com silêncio, se não tiver amor
Conheço a maneira de transportar os montes
e os mistérios que posso esconder
entre os meus lábios, e no espelho
que é a profecia, posso ver o futuro. Nada será
se não tiver amor. E ainda que conheça a cor
do dinheiro e os pobres
que se alegram comigo, o que importa
se não exercitar na alma o gozo do amor.
17-10-2014
Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine. E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria. E ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse amor, nada disso me aproveitaria.
1. Coríntios 13 1-3
A VIRGEM DE LEONARDO
Tem um par de olhos quase obscenos e um sorriso
Enigmático, onde tocam
Os pássaros desocupam os ramos, despem
Os nossos ouvidos de ressentimentos
Sobre o dia que passa
Rasgam a carne, tiram o coração do sério
Do seu batimento
Absorvem
Todo o ar à nossa respiração
Sob a ausência do seu par de olhos e do sorriso
Quase obscenos
Quando se afastam morremos
Em silêncio, sem memórias.
21-11-2014
© João Tomaz Parreira
foto: © Amadeu Baptista
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