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sábado, 21 de maio de 2011

Divina Música, 2009 (Organização de Antologia)




Divina Música – Antologia de Poesia sobre Música é uma edição comemorativa do 25.º Aniversário do Conservatório Regional de Música José de Azerêdo Perdigão, de Viseu, que organizei em 2009.

Colaboradores: Adalberto Alves, Affonso Romano de Sant’Ana, Albano Martins, Alexandra Malheiro, Alexandre Vargas, Alexei Bueno, Amadeu Baptista, Ana Hatherly, Ana Luísa Amaral, Ana Mafalda Leite, Ana Marques Gastão, Ana Salomé, Ana Sousa, António Brasileiro, António Cabrita, António Cândido Franco, António Ferra, António Gregório, António José Queirós, António Osório, António Rebordão Navarro, António Salvado, Artur Aleixo, Bruno Béu, C. Ronald, Camilo Mota, Carlos Felipe Moisés, Carlos Garcia de Castro, Casimiro de Brito, Cláudio Daniel, Cristina Carvalho, Daniel Abrunheiro, Daniel Maia-Pinto Rodrigues, Danny Spínola, Davi Reis, Donizete Galvão, E.M. de Melo e Castro, Edimilson de Almeida Pereira, Eduardo Bettencourt Pinto, Eduíno de Jesus, Ernesto Rodrigues, Eunice Arruda, Fernando de Castro Branco, Fernando Echevarría, Fernando Esteves Pinto, Fernando Fábio Fiorese Furtado, Fernando Grade, Fernando Guimarães, Fernando Pinto do Amaral, Francisco Curate, Gonçalo Salvado, Graça Magalhães, Graça Pires, Henrique Manuel Bento Fialho, Hugo Milhanas Machado, Iacyr Anderson Freitas, Inês Lourenço, Isabel Cristina Pires, Jaime Rocha, Joaquim Cardoso Dias, João Aparício, João Camilo, João Candeias, João Manuel Ribeiro, João Moita, João Rasteiro, João Rios, João Rui de Sousa, João Tala, Joaquim Feio, Jorge Arrimar, Jorge Reis-Sá, Jorge Velhote, José Agostinho Baptista, José Carlos Barros, José do Carmo Francisco, José Luís Mendonça, José Luís Peixoto, José Manuel Vasconcelos, José Mário Silva, José Miguel Silva, José Tolentino de Mendonça, Júlio Polidoro, Levi Condinho, Luís Amorim de Sousa, Luís Filipe Cristóvão, Luís Quintais, Luís Soares Barbosa, manuel a. domingos, Margarida Vale de Gato, Maria Andresen, Maria Estela Guedes, Maria João Reynaud, Maria Teresa Horta, Miguel-Manso, Miguel Martins, Myriam Jubilot de Carvalho, Nicolau Saião, Nuno Dempster, Nuno Júdice, Nuno Rebocho, Ondjaki, Ozias Filho, Patrícia Tenório, Paula Cristina Costa, Paulo Ramalho, Paulo Tavares, Prisca Agustoni, Risoleta Pinto Pedro, Roberval Alves Pereira, Rosa Alice Branco, Rui Almeida, Rui Caeiro, Rui Coias, Rui Costa, Ruy Ventura, Sara Canelhas, Soledade Santos, Teresa Tudela, Torquato da Luz, Urbano Bettencourt, Vasco Graça Moura, Vera Lúcia de Oliveira, Vergílio Alberto Vieira, Victor Oliveira Mateus, Virgílio de Lemos, Vítor Nogueira, Vítor Oliveira Jorge, Yvette K. Centeno, Zetho Cunha Gonçalves.





Quatro poemas da Antologia:


ANTÓNIO CABRITA

DESCOBERTA DE MOZART

Conduzo um chapa, não gramo games
ao volante, vou a magicar palavras
que ouço e desbobino – be-gó-nia
era a cena do dia, ouvida a uma tuga
morena, que pedia visto na migração.

Begónia, tipo e formato, material,
a cor, a medida, deve ser coisa
pra caber numa gaiola,
begónia, sabe a chuchas ao domingo,
se calhar come-se, a curiosidade

é o que mata o rato, e nesse dia o chapa
aumentara de 5 mil pra 7 e meio e calhava
estar out ao bazé do people, cansa
não ter desculpa e ir na onda
do mau-trato, que xinguem o Guebuza,

vota-se sempre em quem engorda,
quem acredita no que escangalha o corpo
a lutar contra a miséria? Begónia,
se calha é peixe, e vai de escama até
ao pescoço, e meto a rádio, gosto

de cismar uma coisa de cada vez,
se vem ao cardume desatino, é preciso
descampar o juízo quando as árvores
levantam voo, só china é que não gosta,

ou pitinho de dama já morta.
Na Malhangalene entrou um branco
que sentou ao lado, a perna encostava
à mudança, não gramo de ter de forçar
prá terceira, mas chateava era ir na dele,

de headphones, a descurtir o som. Desatei
a picar, ‘patrão, não gosta de música de preto?’
E ele fininho ‘prefiro Mozart!’. Mozart,
era ainda mais esquisito que begónia,
e antes que ele se pisgasse, pedi, ‘deixa

ouvir’ e ele pôs-me os auscultadores na cabeça,
a meio da carreira, a meio de uma cena qualquer,
pois passei ao fundo do mar. Conduzia
por entre algas gigantes e corais relinchavam
à passagem, disto sei que sou do Bazaruto.

A água parecia nascida da nuca e vazava
no meu olho uma claridade muito marada.
Aquele mundo sem músculos era para
alguém pensar que se tratava de um sonho?
Foi aí que bati e parti dos dentes ao sobressalto.







DANIEL ABRUNHEIRO

MÚSICA QUE VEIO DE NOITE

                                                 Casa, Souto, madrugada de 20 de Janeiro de 2009

Vim trabalhar para a música e ainda não voltei a casa.
Uma pessoa perde-se, o que não falta é bosque:
madeiras e sopros, lobos escuros como notas na neve pautada.

Agora não sei como hei-de fazer, embora saiba o que.
Às sete da manhã, vou ali ao café, há pacotes pequenos
de bolacha-baunilha, a malta reúne-se lá a discutir a última
jornada e as estrofes mais recentes do nosso mundo e o que
veio de noite enquanto as mulheres dormiam.

O problema é que depois
se vai tudo embora nos respectivos camiões,
tenho de voltar sozinho para o bosque, sopros nas madeiras,
passaritos de apogiatura tilintam no cimo dos cedros,
a mulher-da-erva sente-se através,
não tenho fósforos, tenho pó de café, tenho cafeteira e tenho lenha,
mas esqueci-me de comprar fósforos no café para o café.

A meio do concerto, não dá para telefonar, os músicos irritam-se,
há que respeitar os músicos por dentro, eles tocam dentro,
se uma pessoa prestar atenção acaba por não pensar tanto em casa,
consegue suportar a manhã, o gelo que vitrifica a respiração,
o vago pânico de ter vindo trabalhar por conta das sereias.

À falta de fósforos, fuma-se vapor, o garruço descido aos olhos,
os pés de pedra na tumba das botas, as mãos estalando como galhos,
mas ainda assim dá para trautear aquela inclinação a verde,
o ponteiro do pinheiro que verga a verde na lividez do ar,
e não é preciso tirar um curso superior para se saber que perto
o ribeiro percute peixitos, breves, a compasso do que tenha
chovido.

Vim para a música ver se distingo de vez tristeza de graça.
A melancolia é apanágio das árvores, mas uma pessoa em bosque
acaba por lhes solfejar a íntima batida – todo o cuidado é mouco,
portanto.
Vejamos: isto é a tristeza, aquilo é a graça.
Nisto, o sino canta a meio caminho entre nós e um alegado Deus,
que, a existir, só existiu para Bach.
Vale-me que não tardam aí os madeireiros: clarinetistas quase todos.
Pode ser que um deles traga fósforos e o mapa de retorno a casa.







ISABEL CRISTINA PIRES

A ACEITAÇÃO DOS DIAS

Dá-se um rasgão no pálido do céu. Há dias
assim. Há dias em que sai pelo céu
uma ponta da alma. Há dias misteriosos
que entendemos, sem saber porquê.
Dias de imensa simplicidade em existir,
rosados, claros, incomensuráveis. De exercício
no abrir das labaredas. De aceitação
pura do branco. De permitir uma dança,
quebrada pelos rins, de todo o olhar. Do
esplendor radiado da invenção, em que flui
a lava do momento, a garra
cravada pelo dia. Mozart é
isso.







JORGE VELHOTE

O CONSERVATÓRIO DE MÚSICA
                                                
                                                 Se a barbárie não é visível do interior da teoria,
                                                 ela torna-se possível desde que nos situemos
                                                 num ponto de vista que lhe é exterior.
  
                                                                                               José Manuel Sobral

A luz expõe por dentro a ordem do caos
A abundância policroma dos sons desponta
Contra toda a claridade ou exaltação, deslumbra,
Enquanto contemplamos o enxame sonoro,
pendurando na paisagem escadas
para pomares ignorados,
O conflito abstracto que amplia
O desenho audível do mundo intriga e,
Na aridez, alicerça a energia limpa,
A infinita imagem
Insubmissa

Medido assim, o tempo perdura, encontra a eternidade
Espessamente visível, gravita no júbilo insistente, é
infindável a água que o chão absorve
exactamente, paira penitente no rigor
Com que o ar deriva incandescente
E desnudado
Fulge


O que persegue o ouvido na súplica indigente
O olhar cicatriza, vagaroso
A transferir fronteiras ou provisórias
Deduções, punge
A penúria do sentido, ou empolga
No espanto extremo da pobreza
Com que a dádiva celebra
Os vestígios da narração ausente,
se a boca fosse um íman,
Tépido sinal ou
Sopro táctil

O estudo avoluma então o que o pulso incerta
O que a nostalgia destaca ou isenta
do nome espesso da escuridão
Como fósforo meticuloso
Em sombra
Ou osso

Ascendem de timbres intensos
E pêndulos insondáveis,
Armadilham imagens, lugares lentos
Ou palavras silenciadas,
São como a luz sofrendo


No seu invisível a dor da sua
Sombra, erguendo sempre
A sujidade dos ruídos
Para o infinito
O alvo

Toca um pouquinho para mim
Enquanto não escrevo no vento as poucas
Palavras do meu epitáfio.



(in Divina Música Antologia de Poesia Sobre Música, org, de Amadeu Baptista, Viseu, Edição do Conservatório Regional de Música Dr. José de Azerêdo Perdigão, 2009)

Fotografias © de Amadeu Baptista

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Poesia Digital 7 Poetas dos Anos 80, 2002 (Organização de Antologia)


Organizei a Antologia 'Poesia Digital 7 Poetas dos Anos 80' em colaboração com José Emílio-Nelson, em 2002. O volume foi prefaciado por Luís Adriano Carlos. Poetas representados: Alexandre Vargas, Amadeu Baptista, António Cândido Franco, Fernando Guerreiro, Helga Moreira, José Emílio-Nelson e Luís Adriano Carlos.

Apresenta-se um dos meus poemas representados nesta Antologia, cuja primeira publicação ocorreu no 3.º número da revista 'Cadernos do Tâmega, em 1990:


SITUAÇÃO DA INDÚSTRIA PORTUGUESA
NO INÍCIO DA DÉCADA

            ( para Artur Pereira)

Às vezes, quando a pressão das entregas
aumenta, ajudo a carregar os camiões,
mas o envenenamento é o fim-de-linha,
onde cada tarefa é como a execução
de um castigo. Pagam-me mal, mal tenho
tempo para comer um pão ao meio-dia, sinto
que a força dos meus dezasseis anos não corresponde
ao parco salário que me devem.
De aqui a uns anos, irei cumprir
o serviço militar, perderei a precariedade
do emprego, ainda ontem uma das mulheres
quase ficou sem um braço no sector velocíssimo
da transformação. Servir a pátria é, começo
a não ter dúvidas, sofrer esta amargura
endémica, a pobreza a alcançar-nos
em pouco mais de um passo, os olhos
corrompidos pelo vinagre da luminosidade,
a consciência das coisas ilegítima
na compreensão da linguagem, eu calo-me,
os outros falam por mim. Olho em volta, sinto
inexplicavelmente a natureza fortuita das coisas,
embrenho-me aos domingos na multidão
triunfante, gasto em vinho a humilde alegria
que as pequenas vitórias me consentem,
tremem-me as mãos só de pensar que existe
amor no mundo, algures, longinquamente,
no infinito da nossa ignorância. Gostava
de saber o nome deste usufruto da terra,
quais as cumplicidades que tornam tudo isto possível,
em que lugar de fogo e de agrura
o rosto corresponderá ao rosto e o silêncio
a esta forma de fome secular. Tudo é assim
liminarmente sujo, carregado de sangue
e de arestas, e duvido das proféticas sentenças
sobre a vida que me oferecem,
sem que as contemple, ao menos um instante.
Ao fim da noite, aconchego-me ao sol da praia
predilecta do meu coração, tudo me dói,
é um lençol de luz e solidão o que recebo, creio
na morte como única solução, maldito quem
por minha vez alguma vez pecou
sem que ratificasse a estranha recompensa
de ter aberto uma passagem para nenhum lugar.
Agora estou aqui e não posso pensar, uma outra
carga chama-me, obedeço cegamente
ao encarregado geral, ninguém suspeita
mas tenho dentro de mim uma indústria
onde ninguém produz porque não vale a pena.


(in Vários, Poesia Digital 7 Poetas dos Anos 80, organização de Amadeu Baptista e José Emílio-Nelson. Prefácio de Luís Adriano Carlos. Porto, Campo das Letras, 2002)



quinta-feira, 28 de abril de 2011

Álbum de Acenos, 2001 (Organização de Antologia)


A Antologia 'Álbum de Acenos Antologia de Fotografia e Poesia sobre o Concelho de Almada', que dirigi literariamente, foi uma das inúmeras realizações da Comissão Organizadora do Projecto ImaginArte, de Almada, tendo integrado a colaboração de fotógrafos (Alberto Oliveira, Francisco Dores Alves, Franklin Castanheira, José Barata, José Luís Guimarães, Luís Miranda, Nuno Pinheiro e Rosa Reis) e poetas (Amadeu Baptista, Carlos Poças Falcão Daniel Maia-Pinto Rodrigues, Inês Lourenço, Jorge Velhote, José Alberto Mar, José Emílio-Nelson, José Jorge Letria, Luís Adriano Carlos e valter hugo mãe).


Dois dos poemas com que colaborei nesta Antologia:



Atira-te ao rio e dou-te uma maçã.
Não tenhas medo, a água está tranquila.
Traz esse pau para construir um barco,
quero comandar esse navio.
Onde ele for, havemos de ir também.
Este boné afirma o meu poder.
Ainda um dia hei-de conseguir
nadar até à outra margem.
Ir e voltar será o maior triunfo.
Não sei de que te queixas.
Não está frio, corre no rosto
esta brisa amena, não tarda muito
o peixe vai picar. Ah, deus queira
que a vida venha sempre ao nosso encontro
e eu e tu sejamos marinheiros.

*

Lidamos com as palavras mais difíceis,
amianto, aço, acetileno.
E quando voltamos para casa
não voltamos, ficamos ou partimos
com o navio que aqui aparelhamos.
Um dos nossos pulmões vai pelos mares
para nunca mais voltar da rota do petróleo.
E só o olhar nos acompanha
de regresso ao repouso, ou a esta máscara
onde nenhum de nós é o seu próprio rosto.
Valer-nos-á talvez esta tristeza
de timidamente esboçarmos um aceno
a quem nos vê ao longe e fotografa.
Que ao menos esse gesto patenteie
o duro fardo com que nos castigam.


(in Vários, Álbum de Acenos Antologia de Fotografia e Poesia sobre o Concelho de Almada, direcção literária, organização, selecção e notas de Amadeu Baptista, Almada, ImaginArte Almada, 2001)

Quanta Terra!!!, 2001 (Organização de Antologia)


Em 2001, a propósito da exposição 'Vilanova Artigas, Arquitecto', realizada na Casa da Cerca - Centro de Arte Contemporânea, em Almada, organizei a Antologia 'Quanta Terra!!! Poesia e Prosa Brasileira Contemporânea'. Autores representados: Alexei Bueno, Affonso Romano de Sant'Anna, Iacyr Anderson de Freitas, Lêdo Ivo, Renata Pallottini, Vera Lúcia Olivira (poesia) e Fernando Fábio Fiorense (prosa).

Dessa Antologia, um poema de Renata Pallottini:



UM GALO A ASCLÉPIO

            Eu devo
um galo
            a Asclépio

Não vos esqueçais disso
não vos perturbeis com a minha agonia

            Eu devo
            um galo
            a Asclépio

As dívidas devem ser pagas
a prestação de contas é inevitável

Crescerá a grama sobre o meu túmulo
não mais terei noites de insónia
meus pés estarão ficando frios
minha cabeça será um vulcão de dúvidas
a vida não se encerra sem todos os acertos
lembrai-vos sempre das palavras de um velho
lembrai-vos sempre do momento que antecedeu
a minha agonia

            Eu devo
            um galo
            a Asclépio

Essa dívida é única
e infinita


Renata Pallottini nasceu em São Paulo, a 20 de janeiro de 1931. Cursou Direito, Filosofia e Dramaturgia; escreveu e produziu trabalhos para teatro e televisão. Publicou, entre outros, os livros: A Casa, São Paulo, 1958; Coração Americano, São Paulo, 1976; Chão de palavras, São Paulo, 1977; Noite Afora, São Paulo, 1978; e Obra Poética, 1995.

(in Vários, Quanta Terra!!! Poesia e Prosa Brasileira Contemporânea, organização, selecção e notas de Amadeu Baptista, Almada, Casa da Cerca, 2001)