OLEA EUROPEA
Estrelas fixas, estas árvores de prata. Progrido no extenso
olival
Para que alguma coisa valha a pena, quem sabe se as aves que
o sobrevoam,
Quem sabe se a luz remota que aqui cai para que os milagres
se sucedam
E possam chegar os homens com as suas varas para beber a
terra.
Em cada oliveira vejo um rosto, há rostos de muitos séculos
que habitam
Estas árvores, estão nelas como graça e espírito, a escrever
em cada folha
O nome que sempre tiveram e ninguém conseguiu ler, nomes do início
Do universo, em marcha, sempre em marcha para que o há-de
ser limpo
E vem, de novo, expandir-se nos brilhos de que cada sombra.
Um ofício impaciente adensa cada um destes ramos, tudo
parece feito
De lentidão, como a natureza institui, mas o enigma
Fez para outras rasuras e outras intensidades, como vi em
Djerba,
Como vi em Atenas, como vi em Oran, rápidas essências
Que sobem das planícies como se mais nada houvesse
Que um laço repentino a unir todos os laços, todos os céus.
Os óleos destas árvores existem para que rejubilemos, a mesa
é franca,
Em volta dela avistamos os rostos de sempre, o rosto das
árvores,
Que são como de homens, estrelas fixas a escutar os nomes dos
séculos,
O que alguns preservam nas ramificações de cada cor, como
faz a mulher que passa
Na bicicleta vermelha que amplia na paisagem sobre esta
prata, este verde,
Este cinzento, este talismã que responde aos mais ténues
ecos do coração,
No fulgor da noite constelada em que cada alma se faz
bênção.
Os reis do mundo são estas árvores sem fim, nenhum outro
poder
Se revela senão por este sol que contêm, sol de sóis, milhares
de sóis
A tecer luz para que vejamos na treva e tudo fique limpo e isento
Como estas árvores pelas quais passo e a que abraço o tronco
Para que a vitalidade sobrevenha e tudo tenha um nome.
Por que choro quando toco estas árvores? Por que se me
enchem
Os olhos de lágrimas quando entrevejo este verde marginal
Que me toma o coração? Por que sinto, entre a ramagem,
Fios de frio que me fazem sangrar e ter vertigens? Por que
nave
Tomo as oliveiras, estes seres frágeis que a custo respiram,
Mas o ar constrói para que respiremos melhor? Por que corre
Mais rápido o sangue nas veias por esta frescura ímpar, este
viço?
Ah, as folhas adejam, adeja sobre as nossas cabeças a branca
Queimadura destas árvores, oliveiras de Elêusis, de Tiro, de Alepo,
De um lugar a sul do meu corpo, onde todo o azeite se
derrama
De ânforas antigas e há homens que comem pedaços de terra
Em grandes pratos de bronze enquanto cantam a agrura
De não terem nome, ainda que o seu nome esteja inscrito
No tronco destas árvores, nestas densas bagas verdes,
No horizonte sem fim que transfigura a vida e agita o vento.
arte de Agostinho Santos