12,
masturbo-me vai para
três ou quatro anos
e estou só pele e osso.
na minha cara
abriram-se crateras
que mais do que com a
acne juvenil têm a ver
com o meu propósito
lunar,
rebelde e deslumbrado,
por não querer conter a
natureza
e, por ela, ultrapassar
a última fronteira
de uma libido pertinaz,
sem mais remédio
que ter que a exercer.
segundo creio, não
tarda e estou cego.
é isso, pelo menos, o
que prior avisa,
enquanto, com certeza,
estou cego é dos ouvidos
para não ter que lhe
ouvir a litania sonsa.
à noite, indo para a
cama, não vou
para adormecer, mas
para acordar
definitivamente,
fazendo do desejo
isto que não sei porque
me chama
mas se institui como
uma celebração,
ora porque me morde e
pica o sangue,
ora porque um rio
ambrosiano palpita
entre os lençóis
em que me encontro nu,
enérgico e pronto
a recomeçar a injunção
premente
a que chamo oblação,
por ser palavra rara,
passível de escutar-se
nas aulas de moral,
a que, quando estou
distraído, estou atento.
não sei se acabarei por
me esgotar
nisto em que ando, ou
se estou louco
por me terem marcado
uma consulta
num psiquiatra, amigo
desta casa,
sob o pretexto absurdo
de que ando alheado
de tudo à minha volta e
leio em demasia poesia.
não faço ideia do que
dirá o médico,
que presumo ser
parecido com o freud,
de bata branca e barba
grisalha,
sempre a tomar notas e
a pôr questões em tudo
sobre os sonhos que
recorrentemente me acometem.
de ciência certa sei
que nada
me apoquenta muito para
além do que é normal
da minha idade, que
tenho sem porquês,
e se injurio, como dizem,
o corpo muitas vezes
é porque sou inocente e
o fascismo
pôs os rapazes longe
das meigas raparigas,
ou por má consciência,
ou o absurdo
de impor aos costumes a
premência
vital de um sacrifício
sem sentido.
ah, eu mordo a
almofada, eu faço
do prazer o que me
estremece a alma e amplia
o fogo concreto de
querer viver
sem qualquer censura ao
corpo,
profícuo e viril, por
mais cegueira que me atinja os olhos
por hoje não voltar a
ver algumas das vizinhas
na correnteza intrépida
com os mamilos
espetados debaixo das blusas,
as vulvas palpitantes
sob as mini-saias,
as línguas lânguidas de
fora da boca
a fazer-me caretas pela
melancolia densa.
in Os Selos da Lituânia, Lisboa, & Etc, 2008
© do poema e da foto: Amadeu Baptista~